Enquanto me organizo para tentar mudar um pouco o blog, notei que quase não falo do que estou lendo ou do que quero ler, então o post de hoje é uma nova tentativa de inaugurar uma categoria: Prateleira.
Me chamou atenção não só pela abordagem, como pelo recorte, que talvez seja um dos campos historiográficos mais frutíferos ainda inexplorado (pelo menos no viés historiográfico, segundo o autor); e principalmente um dos primeiros a tocar na percepção cultural e social da década de 80, ainda que seja pelo caminho político.
Esse
Zeitgeist (espírito da época) da "década perdida" permanece ainda pouco tocado no campo historiográfico brasileiro e, curiosamente, ainda fora dele. Só agora que surgem obras acadêmicas e até mesmo artísticas abordando esse sentimento que caracterizou os anos 80 no mundo todo.
Enquanto a moda e a cultura de massa reviveu a década nos últimos anos em seu aspecto colorido, exagerado e espalhafatoso, o lado sombrio dos anos de ferro, da corrida espacial, da guerra fria, da ameaça nuclear e do campo político neo-conservador ficou um tanto quanto relegado à sombra acadêmica, talvez pelo incomodo ainda presente que causa.
Curiosamente a relação dessa percepção social com a política, e principalmente a política brasileira ainda presa às estruturas do Regime Militar, foi pouquíssimo discutida e deglutida. Justamente por isso me interessou a proposta do autor de relacionar os dois aspectos. O livro é fruto de sua pesquisa de doutorado e tenta conciliar o surgimento de 3 estruturas: "três agentes políticos que despontaram na época podem ser considerados a
base do processo de redemocratização que marcou os anos 1980: o Partido
dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)"¹ que pautariam a discussão política das décadas seguintes e participariam ativamente do processo de redemocratização e consolidação posterior dela com a sensação de "tempo perdido" que dominou a década em todos os aspectos.
Não sei como o autor desenvolve seu argumento, mas com certeza está na minha lista de próximas aquisições, ainda que nada tenha a ver com a minha pesquisa. Esse assunto desperta interesse por vários aspectos e para mim é especial por ser relativo a minha memória afetiva - Ainda que eu espere uma obra mais completa em relação a mentalidade histórica dos anos 80, especialmente sobre essa percepção, imortalizada em uma música, quase um hino dessa geração: