25 de outubro de 2011

Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera


Do Kibeloco:

"Se você é daqueles que acredita que propaganda política é sempre chata, melhor mudar de ideia. E o argumento, quem diria, não vem dos sempre liberais americanos e tampouco dos ousados europeus, mas, sim, da Tunísia.

Berço da Primavera Árabe, nome dado à onda de revoltas populares que tomou conta de países do Oriente Médio e norte da África, o país foi às urnas pela primeira vez depois da queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali. E tudo correu muito bem, obrigado. Estima-se que cerca de 7,3 milhões de eleitores votaram e o ambiente foi de tranquilidade.

Para isso, no entanto, uma campanha de conscientização muito criativa tomou conta das ruas. E o chamariz – vejam só! – foi o menos popular de todos: um retrato gigante do odiado Ben Ali. Assistam…



Pois é. Depois que a foto do ditador era arrancada, uma mensagem incentivando o voto – que só é obrigatório por aqui – surgia: “Cuidado! A ditadura pode voltar! Dia 23 de outubro, vote!”

Muito melhor que panfleto e telemarketing, né? Pois é. Precisamos aprender com os árabes. Taí o Kadhafi que não me deixa mentir."

De acordo com um dos comentários no Youtube, a declaração abaixo aparece na propaganda da TV:

"This is a campaign to encourage people to vote. It took the giant portrait of the dictator. You can see the reaction of passers worrisome and angry. And when they remove the portrait, they are behind the poster that says:

- Wake up! dictatorship can come back. On October 23, Go vote!"

Essa é para aqueles que acreditam que países árabes não entendem nada de democracia.

20 de outubro de 2011

Primavera nos Dentes


Vou dar uma breve pausa nos textos de investigação metodológica e/ou sobre historiografia para comentar algo um pouco mais próximo da minha realidade como pesquisadora.

Eu trabalho (no momento) com uma pesquisa de linha crítico-metodológica em Egito faraônico, mas é impossível não acompanhar os desdobramentos políticos do Egito atual desde janeiro deste ano - no que ficou conhecido como a "Primavera Árabe".

Já de cara eu não gosto muito desse nome: é uma alcunha ocidental sobre conflitos internos de poder em um universo cultural que não é tão homogêneo quanto gostaríamos de admitir. Graças à CNN e outros veículos de notícia somados a uma intensa propaganda orientalista norte-americana passamos a enxergar, no pós 11 de setembro, tudo que leva o título árabe como pertencendo a um grupo étnico-cultural só. Se essa generalização já era comum desde a Idade Média, com a guerra contemporânea ao "terror" ganhou um reforço ainda maior.

De acordo com as informações que nos são impostas todo árabe é mulçumano, todo país mulçumano tem um grupo extremista-radical, todo mundo tem ódio da civilização ocidental (isso por que eles não conhecem o McDonnalds).

Quando Edward Said cunhou o termo Orientalismo pela primeira vez sabia que estava encerrando mais de um conceito em torno da palavra: para ele Orientalismo não só era a prática de diferenciação imagética de uma lógica imperialista que procurava colocar o chamado Ocidente como superior ao conjunto mistificado do Oriente, como também era uma prática de análise cientificista que buscava "explicar" e "entender" o Oriente (tomado todo como um conjunto só) para o Ocidente (esse sim fragmentado culturalmente por ser superior). O orientalismo descrito por Said pode ser facilmente percebido quando aparecem os "especialistas em mundo árabe" em diversos telejornais explicando pra população que árabes são maus e invejam as maravilhas do mundo ocidental que não tem, são cruéis com suas mulheres e radicais em seus pontos de vista.

Construída essa imagem ocidentalizada e revestida de um caráter científico, parece fácil entender o que aconteceu de janeiro pra cá - os povos árabes finalmente se cansaram das suas ditaduras e resolveram que queriam uma democracia perfeita como a nossa [insira sua ironia aqui] e, coitados, mesmo saindo nas ruas e pegando em armas, eles ainda tem que lidar com grupos radicais que querem tomar o poder no segundo imediato e como bons ocidentais, detentores da verdade e justiça, só nos resta acompanhar o processo e impedir que aconteça um massacre. Estados Unidos, União Européia e ONU já foram avisadas para ficar de prontidão caso algum barbudo de turbante tome o poder, e ajudar esses pobres coitados a encontrar o caminho da igualdade, dos direitos humanos e do KFC mais próximo.

Lindo, né?

17 de outubro de 2011

O que é Imortal

Então, dando prosseguimento aos trabalhos deste blog... #DeputadoFederalFeelings

Brincadeira! Tenho trabalhado bem pouco por aqui e a sensação de que entrei em um modo "congresso brasileiro" (expediente só de terça à quinta) cresceu um pouco. Para mostrar serviço e dar um ar mais de "Blog" ao projeto, vou começar a postar alguns links e vídeos de material que considero interessantes, enquanto encubo meus rascunhos em uma estufa.

Segue abaixo a entrevista no Jô de um dos poucos mestres de verdade na arte da Historiografia, o professor da UFRJ e Imortal da Academia Brasileira de Letras José Murilo de Carvalho. Autor de um trabalho indispensável pra quem quiser trilhar o caminho da historiografia (não só a brasileira), ele dá uma verdadeira aula de como a democracia se desenvolve no país até hoje.

Nunca tive aulas com ele, mas tive o imenso prazer de ler os seus livros e até hoje acho um dos trabalhos mais brilhantes escritos sobre a história do país. 

Vendo a entrevista me lembrei da época em que ele foi imortalizado pela ABL e, pra variar, deixaram uma piada no quadro do Salão Nobre:

"O que é imortal, não morre no final"

Piada ou não, faz todo o sentido.


5 de outubro de 2011

Correndo com Tesouras

De todas as expressões da língua inglesa, uma das que mais gosto é "Running with Scissors" - literalmente "correndo com tesouras" - que significa basicamente o que a imagem sugere: algo entre viver perigosamente, andar em corda bamba ou brincar com fogo.

O que tem me colocado nessa posição de alvo fácil é o fato de começar, através deste blog, a expôr parte das minhas opiniões pessoais e visão profissional. Relendo o que escrevi até agora (2 posts publicados mais 3 incubados) fiquei um pouco apavorada com um dos princípios que eu mesma prego - tudo é sujeito a interpretações.

Nesse âmbito não há como ser autoritária a ponto de forçar essa ou aquela visão, sobre o risco de perder meu próprio parâmetro; bem como não posso ignorar a possibilidade de ver meus textos expressarem opiniões que não são minhas por falta de clareza.

Só me resta tentar explicar da melhor forma possível (dentro dos meus limites, óbvio) e esperar.

4 de outubro de 2011

Antes de Tudo, Um Pouco de Nada

Não está sendo fácil começar este blog.

A intenção era clara: passar um pouco do que eu chamo de "bastidores" do meu trabalho. O que faz um historiador e como vê o mundo a sua volta, estando ele relacionado ou não à sua linha de pesquisa.

Mas para isso, teria que considerar os seguintes fatores: 

Primeiro - meu "trabalho" ainda não é um trabalho no sentido literal da palavra. No momento (de sobrevivência entre bicos, outras atividades remuneradas não relacionadas e desemprego formal) não posso associar o que faço com atividades de participação na geração de Produto Interno Bruto. É trabalho no sentido de atividade intelectual direcionada e metodológica. Mas não paga minhas contas, nem põe comida na minha mesa; mas precisa de uma dedicação intensa, cuidado técnico e paciência de um artesão.

Segundo - Bastidores é um termo vago, que nada tem a ver com a análise crítica constante da sociedade e seu contexto cultural. O que eu pretendo expôr aqui é mais um condicionamento involuntário, de tentar entender a sociedade em que vivo e o mundo no qual estou inserida. Involuntário, pois não há como desliga-lo. Além disso discutir um pouco do que vejo e um pouco do que leio.

Terceiro - Seria, não só muita pretensão minha, como também um erro metodológico gravíssimo colocar meu pensamento e minha visão de mundo na posição de visão comum a todos os historiadores. Criar uma coleção de supostas "verdades/bases universalmente aceitas" em um meio acadêmico - o que chamamos de paradigmas - quando parte do trabalho é, justamente, criticar esses paradigmas; Cometendo um pecado que sei que muitos cometem, mesmo pregando contra.

Quarto - Estar relacionado à linha de pesquisa ou não, pouco interfere, uma vez que qualquer historiador que se coloca na posição de investigar um recorte temporal deveria, em tese, acompanhar e considerar seu próprio tempo presente como fator de direcionamento e condicionamento de sua pesquisa. Todos nós somos sujeitos e agentes contextualizados em nosso espaço-tempo. Ignorar isso é pressupor que existe neutralidade em pesquisa. Ou acreditar em Papai Noel.

Mas antes do último e decisivo fator, prestem atenção ao que acabei de fazer. Basicamente eu questionei todos os conceitos das minhas próprias afirmações. Lógico que esse questionamento é limitado pela minha capacidade e visão. Mas isso significa, pelo menos pra mim, que todo e qualquer questionamento sobre um assunto é válido por que contribui para redimensionar o mesmo em diferentes ângulos.

Então chegamos ao quinto fator a ser considerado: Afinal de contas, o que raios faz um historiador?

3 de outubro de 2011

Independente F.C.


Esse texto incialmente foi escrito no dia 07 de setembro, mas por motivos de força maior (churrasco no dia, preguiça depois) não pode ser concluído e postado na data.

Eu tinha prometido a mim mesma que não iria me arriscar tão cedo a montar um novo blog, mas cá estou fazendo justamente as duas últimas coisas que queria nesse feriado - criando um blog e trabalhando.

Pra quem chegou sem aviso, tenho 500 outros blogs sobre besteiras e baboseiras em geral (mentira, são só 3) e há tempos venho tentando sufocar a vontade súbita de escrever sobre meu trabalho - que consiste basicamente em... escrever.  

Tu-dum-pah!

Mas esse blog não tem a mínima pretensão ou obrigação de ser estritamente acadêmico ou consistir em pesquisa historiográfica pura. Não vou facilitar a vida nem a pesquisa de ninguém, e também não quero me ater à liguagem formal/técnica exigida na labuta... Isso aqui é um ensaio, um blog de comentários e conceitos com os quais trabalho e um pouquinho de descontração aliada a uma discussão contextualizada com o assunto que me der na telha.

Feita a introdução, vamos ao que interessa.

O que disparou o gatilho foi uma discussão entre amigos no Facebook, a partir de um comentário postado por uma amiga muito querida que é Geógrafa. O que invariavelmente acontece nesse tipo de situação: não consigo passar batida e fingir que não li. Ainda mais conhecendo a autora do comentário e a visão de História comum na sociedade brasileira que, volta e meia, deixa à mostra as falhas que historiadores como eu cometem por omissão.

Sim, a culpa é minha também.

Mas não há como esbarrar nesses tipos de desvio e, pelo menos, se esforçar um pouquinho para enfrentá-los.

[Ela] - Não é essa a independência que quero.

[Eu, provocando] - Tem outra?

[Ela] -  A conquistada teria sido bem melhor...

Bingo! Bem vindos ao primeiro desvio: A Retrodição.